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sexta-feira, janeiro 08, 2010

Estive mais uma vez na internet...

... e a ler a National Geographic deste mês.
Aprendi imenso sobre os Hadza. Ora vejam:

OS HADZA

Os Hadza são caçadores-recoletores que vivem no Norte da Tanzânia, situados nas margens do Lago Eyasi. Também são conhecidos por Tindiga ou Kindinga mas rejeitam tais nomes por considerar que são depreciativos e discriminatórios. O seu território faz parte de 3 distritos administrativos, pertencendo cada um a uma região diferente.
A sua organização social pode ser estudada através das suas relações económicas estabelecidas com os seus vizinhos pastores e agricultores (estes consideram os Hadza como inferiores). Os Hadza sempre foram caçadores-recolectores e orgulhosamente o afirmam; apesar de mais recentemente o seu estilo de vida se ter modificado um pouco.
O seu ambiente ecológico, é dominado pela savana seca do Este de África, o que influencia a sua economia e as relações sociais e políticas. O seu território é considerado como infestado por causa das moscas tsé-tsé (responsáveis pela propagação de doenças), do escasseamento de água potável e por níveis de precipitação baixos, o que faz com que seja impossível a prática da agricultura. Os acessos são quase inexistentes e todos estes factores contribuiram para que eles se mantivessem em relativo isolamento ( comunidades encapsuladas) do resto das outras sociedades, excepto dos vizinhos.
A sua organização económica é rudimentar baseada na subsistência e não existe uma mentalidade de acumulação, pelo menos a longo prazo. É uma sociedade que dá importância à partilha e ao poder da igualdade.


Uma breve caracterização histórica:

Durante a colonização receberam muitos refugiados entre eles de outras sociedades de pastores e agricultores seus vizinhos por estes estarem em conflito com os colonizadores alemães e ingleses que, no entanto, ignoravam os Hadza.
Mas entre 1927 e 1939 a administração britânica fez um esforço no sentido de os forçar a estabelecerem-se como agricultores com vista a transformá-los em cidadãos “úteis”. A ideia era utilizar a mão-de-obra e ensiná-los a trabalhar nas colheitas da agricultura. Tais tentativas levaram ao aparecimento de muitas doenças na comunidade. O contacto com outros povos foi considerado perigoso e foi necessário o reforço da sua política de minimização do contacto. As tentativas falharam, e eles foram abandonados pois o Governo achou melhor não gastar mais dinheiro num grupo que não se conseguia sedentarizar e que não produzia nada de útil.
Desde a década de 60, os Hadza vivem em pequenos acampamentos nómadas deslocando-se todas as duas ou três semanas. Mas com os processos da independência, em 1964 surgiram novas tentativas para voltar a restabelecê-los em novos locais. O Governo da Tanzânia adoptou uma política de sedentarização de modo a se estabelecerem e aumentarem a colheita, a agricultura e a pastorícia. Foram construídas casas, escolas e uma série de infra-estruturas, para melhor os ajudar nesse processo. O Estado disponibilizou uma grande área para eles porem em prática essas actividades. A comida era-lhes dada até conseguirem produzir o suficiente para se alimentarem e terem acesso a água canalizada (algumas torneiras pela povoação).
Isto despertou a inveja das sociedades vizinhas pois queriam ter as mesmas regalias sociais. De repente o novo território tornou-se bastante atractivo para outras sociedades. Algumas pessoas das sociedades vizinhas começaram a fazer-se passar por Hadza para acederem aos serviços, à alimentação, etc.
O projecto teve bastante sucesso mas a verdade é que isso aconteceu devido à facilidade com que os Hadza obtinham comida. Essa era umas das únicas razões para estes não quererem voltar à natureza. Em 1972, quando a comida começou a escassear, devido a políticas internas, grande parte voltou para o seu território de origem. Então, os falsos Hadza mantiveram-se nos povoados e foram eles que beneficiaram das infra-estruturas.
A falha de todas estas tentativas levou as autoridades nacionais a olharem para esta sociedade como condenada, que devia ser deixada até se extinguir.


Mobilidade e estabelecimento:

Os Hadza ao longo da sua história fizeram um esforço para manterem o seu modo de vida face a grandes pressões para os mudar e para se sedentarizarem. A sua mobilidade não é apenas o modo de melhorar o acesso à comida, à água e outras matérias que necessitam mas, também, funciona como um modo de prevenção de doenças (abandonam a áreas onde as pessoas tenham tido doenças ou tenham morrido). A composição dos acampamentos é flexível, os movimentos são constantes dentro dos grupos.
Devido às pressões exercidas pelas autoridades da Tanzânia para se estabelecerem muitos deles acolheram essas políticas para acederem aos benefícios cedidos pelo Governo. Contudo, muitos continuaram a sua vida nómada, apesar dos seus movimentos serem agora mais restritos (resultado da perda de terras), o que afecta de um certo modo, a sua organização social e económica.


Organização política e social:

Os grupos de caçadores-recolectores são pequenos que normalmente são facilmente conqusitados. É o caso dos Hadza que tiveram de se render aos seus vizinhos apesar de terem armas bastante eficientes (arcos, setas, machado). O poder dos seus vizinhos era superior.
Segundo o antropólogo James Woodburn as suas fronteiras confrontam-se com diferentes culturas, e isso nunca os deixou viver em plena paz, e além disso, existe outro ponto que ameaça a sua estabilidade e integridade, que foram os caçadores “outsiders” atraídos pela imensa caça do seu território.
A ideologia Hadza dá principal importância tanto à igualdade como ao status entre os homens. Não têm grandes hierarquias de poder, pois, denota-se a ausência de chefes ou mesmo líderes.
Na sua organização política não existem grandes regras que delimitam a sua estabilidade no fundo a comunidade é regida por todos de forma igualitária, devido sobretudo, ao nomadismo. Segundo James Woodburn a organização social dos Hadza, está inserida num sistema de “immediate – return”, em que os grupos são flexíveis e mudam constantemente a sua composição.
Isto permite-lhes grande mobilidade - cada um caça ou recolhe o que quiser, durante o tempo que quiser. Não há grande dependência de pessoas específicas para satisfazer as necessidades básicas do grupo. Neste sistema as actividades estão mais orientadas para o presente dentro do qual as suas ferramentas e armas são simples e, não existe rendimento pessoal ou bens considerados económicos.
Consideram-se como uma comunidade muito unida baseada na divisão e reciprocidade. Para muitos estudiosos estes inserem-se na “lei da hospitalidade”. Morgan compara essa lei com o comunismo primitivo como substância final da igualdade. Pode-se dizer que os Hadza consideram-se uma grande família, pois tratam todos os outros como parentes. Por isso, a escolha individual e autonomia pessoal é respeitada entre eles.
Homens e mulheres, usualmente, tomam a decisão acerca de com quem casarão. A residência, depois do casamento, é matrilocal, sendo, assim um modo de preservar a solidariedade feminina que é muito importante na vida das mulheres depois de casarem. O casamento (ou melhor a ausência do mesmo) tem sido um factor de declínio desta sociedade. Têm vindo a perder raparigas na idade de casar; o movimento tem sido de saída e não de entrada devido à impossibilidade de pagar o elevado preço pela noiva (lobolo) e além disso, são tidos como tendo um estatuto social inferior ao das outras sociedades, logo poucas raparigas querem casar com um Hadza.
No contexto religioso, os homens e mulheres são diferenciados. Muitas das cerimónias são realizadas separadamente. Os homens, assim que possível, são logo iniciados na comunidade igualitária dos homens na qual eles têm direitos e privilégios. Entre eles mantêm segredos sobre as mulheres e crianças. Por outro lado, as mulheres também têm os seus segredos sobre os homens. A circuncisão feminina é organizada apenas pelas mulheres e é vista como matéria inteiramente delas (existem indicações de que hoje em dia as mulheres podem escolher entre fazer ou não a circuncisão).
Os rituais na maioria estão associados à caça. Contudo, têm um ritual muito importante, o “Esperne Dance” - é um acontecimento executado na escuridão nas noites sem luar. Considerado indispensável para o seu bem-estar e pode ser interpretado como uma cerimónia de reconciliação entre homens e mulheres.


Organização económica:

A estigmatização dos grupos de caçadores-recolectores afecta a natureza das trocas. Inseridos num sistema de “immediate-return” (retorno imediato), asseguram o seu modo de vida e a sua sobrevivência sem grandes dependências dos vizinhos. Apesar de obterem destes produtos como tabaco, metal para setas, facas e machados, roupas, farinha, isto pode revelar que estão dependentes dos seus vizinhos mas na realidade não é essa a verdade, no entender de J. Woodburn.
A sua subsistência provem de tudo o que a natureza oferece - fazem a recolha e caça de alimentos para o próprio dia ou para alguns dias seguintes. Os produtos são para si próprios e negoceiam apenas os excedentes porque não costumam trabalhar para os seus vizinhos de forma a evitar compromissos para com os outros. Na obtenção de um ou outro bem podem depender dos seus vizinhos mas isso não significa que há grandes relacionamentos entre eles. Tentam evitar o estabelecimento de relações de troca muito fortes para não se criar uma dependência entre eles e para não estarem sujeitos a uma dominação por parte dos seus vizinhos. Dentro do seu sistema de produção e de transacção tentam evitar compromissos, por isso, estabelecem relações efémeras para evitar grandes dependências.
A sua alimentação é constituída à base de raízes selvagens, mel, carne de animais, batata doce, etc. A procura de comida leva a que haja uma divisão sexual do trabalho, em que homens ficam encarregues da caça e as mulheres da recolecção (raízes, plantas, frutos, insectos). É relativamente fácil obterem alimentos. Mas existem tipos de comida que rejeitam, como répteis, certos insectos, peixe, moluscos, etc. Em contrapartida dão especial valor ao mel. A carne é partilhada com as pessoas do acampamento, não é apenas reservada ao caçador e à sua família; acreditam fortemente que se deve partilhar sem esperar recompensa – pode ser entendido como altruísmo. Normalmente, na caça não usam armadilhas sendo necessário mais agilidade e pratica diária com maior esforço.
Alguns Hadza, agora trabalham fora dos acampamentos ou estão ocupados com o comércio. Não lutam para se adaptar à modernidade como se tivessem ficado presos no passado, eles são um povo esperançoso no futuro e, por enquanto, auto-suficiente.
Conseguiram escapar à marginalização imposta pela exploração agrícola e industrial ocupando áreas que não servem para essas actividades. Isso não significa que a sua qualidade de vida seja miserável. A sua dieta é bastante equilibrada e estão menos sujeitos a fomes do que os povos vizinhos. Como não têm que trabalhar muito sobra-lhes tempo para o lazer, para a vida social e ritual.
Hoje em dia enfrentam graves crises que abala a sua continuidade. Provavelmente, eles terão de recorrer à prática da agricultura e da criação de gado para poderem sobreviver (como deseja o Governo). Contudo, resistem à mudança porque acreditam que o seu modo de vida”primitivo” é melhor do que a “civilização”.

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