Priolo
Pyrrhula pyrrhula
NOTA (16 de Abril de 2008): ACRÉSCIMOS a vermelho
Apesar de já ter passado o dia 1 de Abril, aquele das mentiras, não pode passar em branco o Dia Internacional das Aves. Eu já escrevi aqui algumas vezes sobre aves, mas nunca é demais e este ano o Priolo é a ave do ano.
Afinal, quem é este Priolo? Encontrei um texto do Professor Doutor Jaime Albino Ramos. Li com atenção e aprendi imensas coisas sobre esta ave. Porque as ilhas fazem parte de Portugal e porque lá existem espécies que nós nem sonhamos aqui no Continente, aqui fica o texto para lerem com atenção:
O Priôlo (Pyrrhula murina) e a floresta natural de altitude
©Copyright Câmara Municipal de Nordeste
Antecedentes
As ilhas do Arquipélago dos Açores (36-39°N, 25-31°W), descobertas pelos portugueses no período de 1431 a 1452, desde cedo atraíram a atenção de naturalistas dada a sua vegetação exuberante e formas faunísticas particulares. O cronista do Reino, Gaspar Fructuoso (Fructuoso, 1926) e, especialmente, o naturalista Coronel Afonso Chaves, foram os primeiros a fazer referência e a descrever de uma forma simples a fauna e a flora açorianas. Também viajantes como Bullar e Bullar (1849) escreveram sobre a beleza da paisagem de S. Miguel e, especialmente, sobre a luxuriante vegetação do Vale das Furnas. Na sua maioria, a vegetação só foi propriamente descrita na segunda metade deste século pelo professor Palhinha (1961).
No século XIX, uma ave de cabeça, asas e cauda pretas e com plumagem cinzento-acastanhada atraiu a atenção de agricultores, coleccionadores e naturalistas. Os agricultores viram os seus pomares de laranjeiras, cultura então dominante na costa sul da ilha de S. Miguel, serem atacados pelas aves, as quais devoravam rapidamente as flores daquela árvore de fruto. Foi então instituído um prémio por cada cabeça apresentada nos Serviços Agrícolas (Agricultor Micaelense, 1843 e 1848; Chaves, 1923). Os coleccionadores atraídos por aquela ave enigmática procuravam espécimes para museus. Na segunda metade do século XIX e no início do século XX foram capturados espécimes para museus americanos, ingleses, austríacos e alemães (Hartert e Ogilvie-Grant, 1905; Murphy e Chapin, 1929). Em 1903 um coleccionador austríaco capturou 53 aves em 60 dias (Bannerman e Bannerman, 1966).
Os naturalistas obtiveram as primeiras informações sobre a distribuição, hábitos e classificação da espécie. Recolheram, igualmente, espécimes para museus. Godman (1866), o primeiro a classificar a espécie correctamente, constatou que, apesar de invadir os pomares durante a floração, a ave predominava nas áreas montanhosas.
Todas as observações de então foram efectuadas na região do Vale das Furnas e, mais importante ainda, as aves só foram localizadas na parte Leste da ilha de S. Miguel. No fim do século XIX uma doença dizimou os pomares de laranjeira e as aves tornaram-se, aparentemente, difíceis de observar no Vale das Furnas (Hartert e Ogilvie-Grant, 1905; Chavigny e Mayaud, 1932). Em 1923, o Sr. Botelho viu e capturou uma ave na Lomba do Carro. Após essa altura, não existem registos de outras observações em regiões montanhosas, mas as aves eram observadas regularmente pelos funcionários dos Serviços Florestais aquando da florestação da Serra da Tronqueira por Criptoméria, Cryptomeria japonica, (Guarda Carlos Arruda, Engº Salvador e outros, comunicação pessoal). Nos anos 60 e 70 foram vistas a alimentarem-se de flores de pessegueiros e pereiras nas ribeiras acima das Lombas da Povoação e do Nordeste (Chaves, 1964; Açores, 1970; Mª. Mendonça e outros, comunicação pessoal). Em Novembro de 1971 uma ave foi capturada nas Furnas (Correio dos Açores, 1971). O famoso casal de ornitólogos ingleses Bannerman não as encontraram durante duas visitas que efectuaram a S. Miguel em 1965 e 1966.
Quais eram essas aves enigmáticas existentes nas zonas montanhosas da parte Leste da ilha de S. Miguel? Porque estavam restritas apenas a essa parte da ilha?
Descrição
O Priôlo ou Dom-Fafe dos Açores é um passeriforme do género Pyrrhula. Este género tem uma distribuição predominantemente asiática. O único representante europeu é a espécie Pyrrhula pyrrhula. De uma maneira geral, na Europa, o tamanho das aves e os tons de claro da sua plumagem aumentam de Leste para Oeste e de Sul para Norte, o que permite distinguir seis sub-espécies. Na Europa Ocidental e do Norte todas as sub-espécies apresentam marcado dimorfismo sexual: os machos apresentam peito vermelho e as fêmeas cinzento.
Relativamente às aves da Europa Ocidental, as aves dos Açores, Pyrrhula murina, apresentam três diferenças fundamentais: (1) São maiores. As asas de machos e de fêmeas de Priôlo medem 87 a 93 mm e 85 a 92 mm de comprimento, respectivamente. Em Espanha medições similares são da ordem de 79 a 84 e 76 a 81 mm (Noval, 1971) e na Grã-Bretanha 79 a 86 e 78 a 86 mm (Newton, 1966). O Priôlo pesa cerca de 30 gramas, enquanto o Dom-Fafe de Espanha e de Inglaterra pesa cerca de 25 a 26 gramas. (2) As coberturas sob as asas e a parte superior da cauda são acastanhadas e não brancas. (3) Em termos de plumagem os sexos não apresentam dimorfismo sexual evidente. O Priôlo macho não apresenta o peito vermelho tal como os seus parentes europeus. Exceptuando algumas penas do peito tingidas com um tom vermelho leve, presentes sobretudo nos adultos, a plumagem dos machos é praticamente igual à das fêmeas. Além disso, esta diferenciação só é evidente se as aves forem examinadas directamente.
Dadas estas diferenças, Goodwin (1984) e Knox (1988) sugeriram que o Priôlo deveria ser classificado como uma espécie separada. Para além das diferenças morfológicas, as análises de penas efectuadas pelo Dr. Robert Dawson em Nottingham, Inglaterra, revelaram diferenças genéticas consistentes entre as aves dos Açores e as do Continente Europeu.
As Primeiras Observações
Desde o início deste século o Priôlo começou a ser motivo de preocupação pela sua raridade. O ornitólogo holandês, Van Vegten, num passeio entre o Salto do Cavalo e o Planalto dos Graminhais, em 1961, observou uma ave pousada em Criptoméria, (Van Vegten, 1961). Em 1968, Vincent afirmou no Livro Vermelho de Vertebrados que o Priôlo estaria provavelmente à beira da extinção (Vincent, 1968).
No final dos anos 70, o ornitólogo francês Gerard Le Grand, a trabalhar então na Universidade dos Açores, estima a população em 30 a 40 casais e afirma que o Priôlo se encontra confinado à vegetação endémica em redor do Pico da Vara (Le Grand, 1982). O primeiro estudo propriamente dito foi efectuado pelo Dr. Colin Bibby e Trevor Charlton da Associação Inglesa de Conservação "Royal Society for the Protection of Birds". Estes ornitólogos exploraram uma vasta rede de caminhos por entre a vegetação endémica e as suas redondezas desde as Furnas à Ponta da Madrugada, o que lhes permitiu averiguar sobre a distribuição da espécie. Descobriram que as aves se encontram confinadas à vegetação endémica em redor do Pico da Vara, embora um indivíduo tenha sido observado no Salto do Cavalo. As aves não foram detectadas nas plantações densas de Criptoméria. A contagem do número de aves em pontos de observação durante dez minutos, bem como a sua ocorrência dentro ou fora de um raio de 30 metros, permitiu estimar a população em cerca de 100 casais (Bibby e Charlton, 1991; Bibby, Charlton e Ramos, 1992).
A Floresta Endémica de Altitude
Ad primeiras observações do Priôlo revelaram um ponto fundamental da sua ecologia: o confinamento das aves à vegetação endémica de altitude. Quais são então as particularidades desta vegetação?
Trata-se de uma floresta húmida (Laurissilva), cujas origens remontam às florestas húmidas do Terciário existentes no Sul da Europa, desaparecidas há milhões deanos auando das glaciações. É, por conseguinte, uma floresta-museu com um índice de endemismos (plantas que não ocorrem em mais nenhum local do mundo) muito elevado. Oito das onze espécies de árvores existentes nesta floresta só existem nos Açores. Outras plantas existem igualmente nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, cujas florestas são igualmente consideradas como florestas-museu do período Terciário.
A floresta natural açoriana de altitude é muito densa, com povoamentos que em S. Miguel vão até 150 árvores por 100 m/2, e apresenta uma diversidade botânica elevada. Possui uma camada sub-arbustiva, geralmente muito densa, de grandes fetos e arbustos, alguns dos quais geralmente endémicos. Como exemplos de árvores temos o Azevinho (Ilex perado spp azorica), o Cedro-do-Mato (Juniperus brevifolia), a Urze (Erica azorica), o Louro (Laurus azorica), a Uva-da-Serra (Vaccinium cylindraceum) e a Ginja (Prunus lusitanica spp azorica). Como exemplos de grandes fetos temos o Feto-do-Cabelinho (Culcita macrocarpa) e o Woodwardia radicans. Como exemplos de arbustos existem o Tamujo (Myrsine africana) e o Folhado (Viburnum tinus spp subcordatum). Existem ainda várias herbáceas que crescem em zonas abertas: clareiras, ribeiras e derrocadas; o Patalugo (Leontodon filii), o Sargasso (Luzula purpureo-splendens), a Margarida (Bellis azorica) e a Alfacinha (Lactuca watsoniana), entre outras. No seu conjunto é uma floresta mosaico com vários tipos de comunidades endémicas (Haggar, 1988). Sjogren (1984) efectua uma descrição sumária das principais plantas dos Açores.
A área de floresta natural tem vindo a ser reduzida devido, por um lado, ao aumento da área de pastagens e plantações de Criptoméria e, por outro lado, à invasão de plantas exóticas. Na ilha de S. Miguel, o Incenso (Pittosporum undulatum), domina a vegetação abaixo dos 400 metros e a Conteira (Hedychium gardnerarum) e a Clethra arborea (conhecida na ilha da Madeira como Folhado e no Nordeste como Verdenaz), estão a invadir a restantes áreas de floresta natural. Algumas plantas endémicas, entre as quais a Ginja, correm o risco de desaparecer e, em determinadas áreas a Clethra arborea e/ou a Conteira já substituiram em grande parte a comunidade de plantas endémicas.
Distribuição e Utilização de Habitats
Para averiguar sobre a distribuição da espécie foi estabelecida uma vasta rede de caminhos, desde a Ponta da Madrugada à Lagoa das Furnas, cobrindo todos os tipos de vegetação existentes na região. Estações (pontos de paragem) foram estabelecidos todos os 200 metros e durante 8 minutos registou-se, em cada ponto, o número de aves bem como o habitat onde elas se encontravam. Este recenseamento revelou que o Priôlo se encontra largamente restrito a toda a vegetação endémica em redor do Pico da Vara, sendo mais facilmente observado na Serra da Tronqueira.
Para saberem mais sobre o Priolo visitem este site. Está lá tudo!
E não se esqueçam: peguem nos binóculos e olhem para o céu!
Afinal, quem é este Priolo? Encontrei um texto do Professor Doutor Jaime Albino Ramos. Li com atenção e aprendi imensas coisas sobre esta ave. Porque as ilhas fazem parte de Portugal e porque lá existem espécies que nós nem sonhamos aqui no Continente, aqui fica o texto para lerem com atenção:
O Priôlo (Pyrrhula murina) e a floresta natural de altitude
©Copyright Câmara Municipal de Nordeste
Antecedentes
As ilhas do Arquipélago dos Açores (36-39°N, 25-31°W), descobertas pelos portugueses no período de 1431 a 1452, desde cedo atraíram a atenção de naturalistas dada a sua vegetação exuberante e formas faunísticas particulares. O cronista do Reino, Gaspar Fructuoso (Fructuoso, 1926) e, especialmente, o naturalista Coronel Afonso Chaves, foram os primeiros a fazer referência e a descrever de uma forma simples a fauna e a flora açorianas. Também viajantes como Bullar e Bullar (1849) escreveram sobre a beleza da paisagem de S. Miguel e, especialmente, sobre a luxuriante vegetação do Vale das Furnas. Na sua maioria, a vegetação só foi propriamente descrita na segunda metade deste século pelo professor Palhinha (1961).
No século XIX, uma ave de cabeça, asas e cauda pretas e com plumagem cinzento-acastanhada atraiu a atenção de agricultores, coleccionadores e naturalistas. Os agricultores viram os seus pomares de laranjeiras, cultura então dominante na costa sul da ilha de S. Miguel, serem atacados pelas aves, as quais devoravam rapidamente as flores daquela árvore de fruto. Foi então instituído um prémio por cada cabeça apresentada nos Serviços Agrícolas (Agricultor Micaelense, 1843 e 1848; Chaves, 1923). Os coleccionadores atraídos por aquela ave enigmática procuravam espécimes para museus. Na segunda metade do século XIX e no início do século XX foram capturados espécimes para museus americanos, ingleses, austríacos e alemães (Hartert e Ogilvie-Grant, 1905; Murphy e Chapin, 1929). Em 1903 um coleccionador austríaco capturou 53 aves em 60 dias (Bannerman e Bannerman, 1966).
Os naturalistas obtiveram as primeiras informações sobre a distribuição, hábitos e classificação da espécie. Recolheram, igualmente, espécimes para museus. Godman (1866), o primeiro a classificar a espécie correctamente, constatou que, apesar de invadir os pomares durante a floração, a ave predominava nas áreas montanhosas.
Todas as observações de então foram efectuadas na região do Vale das Furnas e, mais importante ainda, as aves só foram localizadas na parte Leste da ilha de S. Miguel. No fim do século XIX uma doença dizimou os pomares de laranjeira e as aves tornaram-se, aparentemente, difíceis de observar no Vale das Furnas (Hartert e Ogilvie-Grant, 1905; Chavigny e Mayaud, 1932). Em 1923, o Sr. Botelho viu e capturou uma ave na Lomba do Carro. Após essa altura, não existem registos de outras observações em regiões montanhosas, mas as aves eram observadas regularmente pelos funcionários dos Serviços Florestais aquando da florestação da Serra da Tronqueira por Criptoméria, Cryptomeria japonica, (Guarda Carlos Arruda, Engº Salvador e outros, comunicação pessoal). Nos anos 60 e 70 foram vistas a alimentarem-se de flores de pessegueiros e pereiras nas ribeiras acima das Lombas da Povoação e do Nordeste (Chaves, 1964; Açores, 1970; Mª. Mendonça e outros, comunicação pessoal). Em Novembro de 1971 uma ave foi capturada nas Furnas (Correio dos Açores, 1971). O famoso casal de ornitólogos ingleses Bannerman não as encontraram durante duas visitas que efectuaram a S. Miguel em 1965 e 1966.
Quais eram essas aves enigmáticas existentes nas zonas montanhosas da parte Leste da ilha de S. Miguel? Porque estavam restritas apenas a essa parte da ilha?
Descrição
O Priôlo ou Dom-Fafe dos Açores é um passeriforme do género Pyrrhula. Este género tem uma distribuição predominantemente asiática. O único representante europeu é a espécie Pyrrhula pyrrhula. De uma maneira geral, na Europa, o tamanho das aves e os tons de claro da sua plumagem aumentam de Leste para Oeste e de Sul para Norte, o que permite distinguir seis sub-espécies. Na Europa Ocidental e do Norte todas as sub-espécies apresentam marcado dimorfismo sexual: os machos apresentam peito vermelho e as fêmeas cinzento.
Relativamente às aves da Europa Ocidental, as aves dos Açores, Pyrrhula murina, apresentam três diferenças fundamentais: (1) São maiores. As asas de machos e de fêmeas de Priôlo medem 87 a 93 mm e 85 a 92 mm de comprimento, respectivamente. Em Espanha medições similares são da ordem de 79 a 84 e 76 a 81 mm (Noval, 1971) e na Grã-Bretanha 79 a 86 e 78 a 86 mm (Newton, 1966). O Priôlo pesa cerca de 30 gramas, enquanto o Dom-Fafe de Espanha e de Inglaterra pesa cerca de 25 a 26 gramas. (2) As coberturas sob as asas e a parte superior da cauda são acastanhadas e não brancas. (3) Em termos de plumagem os sexos não apresentam dimorfismo sexual evidente. O Priôlo macho não apresenta o peito vermelho tal como os seus parentes europeus. Exceptuando algumas penas do peito tingidas com um tom vermelho leve, presentes sobretudo nos adultos, a plumagem dos machos é praticamente igual à das fêmeas. Além disso, esta diferenciação só é evidente se as aves forem examinadas directamente.
Dadas estas diferenças, Goodwin (1984) e Knox (1988) sugeriram que o Priôlo deveria ser classificado como uma espécie separada. Para além das diferenças morfológicas, as análises de penas efectuadas pelo Dr. Robert Dawson em Nottingham, Inglaterra, revelaram diferenças genéticas consistentes entre as aves dos Açores e as do Continente Europeu.
As Primeiras Observações
Desde o início deste século o Priôlo começou a ser motivo de preocupação pela sua raridade. O ornitólogo holandês, Van Vegten, num passeio entre o Salto do Cavalo e o Planalto dos Graminhais, em 1961, observou uma ave pousada em Criptoméria, (Van Vegten, 1961). Em 1968, Vincent afirmou no Livro Vermelho de Vertebrados que o Priôlo estaria provavelmente à beira da extinção (Vincent, 1968).
No final dos anos 70, o ornitólogo francês Gerard Le Grand, a trabalhar então na Universidade dos Açores, estima a população em 30 a 40 casais e afirma que o Priôlo se encontra confinado à vegetação endémica em redor do Pico da Vara (Le Grand, 1982). O primeiro estudo propriamente dito foi efectuado pelo Dr. Colin Bibby e Trevor Charlton da Associação Inglesa de Conservação "Royal Society for the Protection of Birds". Estes ornitólogos exploraram uma vasta rede de caminhos por entre a vegetação endémica e as suas redondezas desde as Furnas à Ponta da Madrugada, o que lhes permitiu averiguar sobre a distribuição da espécie. Descobriram que as aves se encontram confinadas à vegetação endémica em redor do Pico da Vara, embora um indivíduo tenha sido observado no Salto do Cavalo. As aves não foram detectadas nas plantações densas de Criptoméria. A contagem do número de aves em pontos de observação durante dez minutos, bem como a sua ocorrência dentro ou fora de um raio de 30 metros, permitiu estimar a população em cerca de 100 casais (Bibby e Charlton, 1991; Bibby, Charlton e Ramos, 1992).
A Floresta Endémica de Altitude
Ad primeiras observações do Priôlo revelaram um ponto fundamental da sua ecologia: o confinamento das aves à vegetação endémica de altitude. Quais são então as particularidades desta vegetação?
Trata-se de uma floresta húmida (Laurissilva), cujas origens remontam às florestas húmidas do Terciário existentes no Sul da Europa, desaparecidas há milhões deanos auando das glaciações. É, por conseguinte, uma floresta-museu com um índice de endemismos (plantas que não ocorrem em mais nenhum local do mundo) muito elevado. Oito das onze espécies de árvores existentes nesta floresta só existem nos Açores. Outras plantas existem igualmente nos arquipélagos da Madeira e das Canárias, cujas florestas são igualmente consideradas como florestas-museu do período Terciário.
A floresta natural açoriana de altitude é muito densa, com povoamentos que em S. Miguel vão até 150 árvores por 100 m/2, e apresenta uma diversidade botânica elevada. Possui uma camada sub-arbustiva, geralmente muito densa, de grandes fetos e arbustos, alguns dos quais geralmente endémicos. Como exemplos de árvores temos o Azevinho (Ilex perado spp azorica), o Cedro-do-Mato (Juniperus brevifolia), a Urze (Erica azorica), o Louro (Laurus azorica), a Uva-da-Serra (Vaccinium cylindraceum) e a Ginja (Prunus lusitanica spp azorica). Como exemplos de grandes fetos temos o Feto-do-Cabelinho (Culcita macrocarpa) e o Woodwardia radicans. Como exemplos de arbustos existem o Tamujo (Myrsine africana) e o Folhado (Viburnum tinus spp subcordatum). Existem ainda várias herbáceas que crescem em zonas abertas: clareiras, ribeiras e derrocadas; o Patalugo (Leontodon filii), o Sargasso (Luzula purpureo-splendens), a Margarida (Bellis azorica) e a Alfacinha (Lactuca watsoniana), entre outras. No seu conjunto é uma floresta mosaico com vários tipos de comunidades endémicas (Haggar, 1988). Sjogren (1984) efectua uma descrição sumária das principais plantas dos Açores.
A área de floresta natural tem vindo a ser reduzida devido, por um lado, ao aumento da área de pastagens e plantações de Criptoméria e, por outro lado, à invasão de plantas exóticas. Na ilha de S. Miguel, o Incenso (Pittosporum undulatum), domina a vegetação abaixo dos 400 metros e a Conteira (Hedychium gardnerarum) e a Clethra arborea (conhecida na ilha da Madeira como Folhado e no Nordeste como Verdenaz), estão a invadir a restantes áreas de floresta natural. Algumas plantas endémicas, entre as quais a Ginja, correm o risco de desaparecer e, em determinadas áreas a Clethra arborea e/ou a Conteira já substituiram em grande parte a comunidade de plantas endémicas.
Distribuição e Utilização de Habitats
Para averiguar sobre a distribuição da espécie foi estabelecida uma vasta rede de caminhos, desde a Ponta da Madrugada à Lagoa das Furnas, cobrindo todos os tipos de vegetação existentes na região. Estações (pontos de paragem) foram estabelecidos todos os 200 metros e durante 8 minutos registou-se, em cada ponto, o número de aves bem como o habitat onde elas se encontravam. Este recenseamento revelou que o Priôlo se encontra largamente restrito a toda a vegetação endémica em redor do Pico da Vara, sendo mais facilmente observado na Serra da Tronqueira.
Para saberem mais sobre o Priolo visitem este site. Está lá tudo!
E não se esqueçam: peguem nos binóculos e olhem para o céu!
2 comentários:
Olá Topas!
Uma correcção
A imagem que publicaste como sendo um Priolo (Pyrrhula murina), é na verdade um Dom Fafe (Pyrrhula pyrrhula). Se quiseres mais informações e imagens do Priolo vai a http://www.spea.pt/ms_priolo/pt/
Sílvia Rocha
(Centro Ambiental do Priolo)
Sílvia,
Acrescentei uma nova fotografia: assim, com ambas e com a explicação do texto já não fica margem para dúvidas.
Recebeste a minha resposta por email, certo?
Hoje, escrevo uma "postagem" para ti e sobre este assunto. Mais uma vez, muito obrigada.
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