Planeta Azul com tons de verde
Aqui fica uma entrevista à minha querida amiga Ema Magalhães no Planeta Azul:
16/02/2011
“Decidi-me a mudar, todos os dias, um comportamento menos amigo do ambiente”
Carlos Teixeira Gonçalves
Há listas e listas. Há listas que servem para organizar a sua vida (como a do supermercado) e listas que só servem para aumentar a frustração (1001 filmes para ver antes de morrer, 1001 livros ...). A lista de Ema Magalhães é feita para o transformar numa pessoa mais amiga do ambiente e está disponível num blogue chamado “365 coisas que posso fazer... para diminuir a minha pegada ecológica”.
Como surge o blogue “365 coisas que posso fazer... para diminuir a minha pegada ecológica”?
Na verdade já tinha um blogue “começado”, porque queria aprofundar os meus conhecimentos sobre uma vida mais sustentável, mas estava em banho-maria. Depois encontrei o livro da Vanessa Farquharson (Dormir nu é ecológico) e entusiasmei-me com o conceito. Comprei o livro, li-o e fiquei desapontada... Porque estava à espera de respostas, sugestões práticas e não as encontrei. Mas encheu-me de vontade de seguir o seu exemplo – apesar de tudo, apresentava uma lista inspiradora com 366 medidas – e só por isso valeu a pena. Renomeei o blogue e decidi-me a mudar, todos os dias, um comportamento ou um hábito menos amigo do ambiente, e a relatá-lo: primeiro para mim, para me “obrigar” a cumprir a minha resolução, e para outras pessoas que também procurassem soluções mais amigas do ambiente. Mas estava convencida que me manteria no meu círculo de amigos e conhecidos...
A sua pegada ecológica era muito grande ou, simplesmente, achou que devia ajudar os outros a diminuir a deles?
Até não era muito grande (1,53 “Terra”, o que quer dizer que se toda a gente vivesse como eu, seria preciso um pouco mais de uma Terra e meia...), comparada com a pegada média dos portugueses (2,23 “Terra”), que por sua vez não é das piores... Mas para mim já era o suficiente para não me sentir bem comigo própria. E esta foi a minha motivação, reduzir o mais possível o meu impacto no nosso planeta. Porque impacto vamos ter sempre, não é? Ainda que só respirássemos. O facto de poder contribuir para que outras pessoas mudassem hábitos foi, simultaneamente, um incentivo extra e uma responsabilidade. Nunca pensei que o “365 coisas que posso fazer...” chegasse a tantas pessoas. E gostava de deixar aqui um agradecimento profundo a todas as pessoas que seguem o blogue, a página no facebook, que me questionam, me esclarecem, me inspiram, sugerem assuntos, partilham experiências.
No seu dia-a-dia, que tipo de coisas evita fazer para não prejudicar o ambiente?
Prefiro dizer “faço” a “evito fazer”. “Evitar” tem uma conotação negativa, de que me estou a privar de algo, a fazer um sacrifício... Sinto que ao longo destes meses tenho modificado não só os meus hábitos, mas a minha perspectiva dos outros, do mundo que me rodeia, de mim até. Descobri que ainda tenho um longo caminho a percorrer. É todo um modo de vida que se reajusta, com implicações mais profundas do que parece. Mas é uma mudança positiva. Passei de alguém que pensava que já “fazia tudo o que vem nas listas dos comportamentos verdes” (reciclar, poupar água e energia), para alguém que sabe que antes do reciclar – e até do reutilizar – está o reduzir, que poupar água é muito mais do que não deixar a torneira a correr e que para poupar energia não basta desligar as luzes ao sair de uma divisão. Alguém que todos os dias põe em prática e procura novas formas de aplicar estas “regras”. Como já disse algures no blogue, é como um vício, mas um vício bom (ainda que tal seja contraditório). Não vou dizer que não há dias em que me apetece esquecer tudo. Há. Nesses dias digo a mim própria, em voz alta: “A ignorância é uma benção...” E como me soa ridículo, contrário à minha natureza, passam-me logo “os azeites”...
Qual das 189 medidas que inseriu até agora tem sido a mais difícil de pôr em prática?
Hummm... Coser e tricotar... Sempre fui meio maria-rapaz e sou boa a “carpinteirar” (o hobby do meu pai) mas fugia a sete pés das minhas avó e tia que me queriam prendada... Ainda não lhe tomei o gosto. Também não gosto muito de apanhar o lixo dos outros, ainda que ande sempre com umas luvas para esse fim. Agora no Inverno tomar o duche com a água mais para o fresquinho (apesar de saber que é bom para a minha saúde)... Também tenho andado frustada porque uma das nossas gatas resolveu fazer greve à serradura, começou a deixar “presentes” em locais menos próprios e tivemos que voltar a comprar areia “má”. Estou a ver se lhe passa a crise da adolescência...
Pode revelar qual é a próxima ideia que vai adicionar ao “365 coisas...”? O que vai ser a número 190?
Vou falar sobre passadeiras: automóveis, peões, ciclistas... Por acaso foi uma sugestão lançada por um leitor. Como disse anteriormente, são indispensáveis!
Quando chegar às 365 entradas vai desistir? Já pensou no futuro do blogue?
Nos primeiros cinco meses deste desafio consegui manter o ritmo a que me tinha proposto – uma resolução e um post por dia. Depois coisas boas aconteceram na minha vida, mas deixaram-me menos tempo para me dedicar ao blogue. Também me tornei mais minuciosa, pesquisando cada tema quase até à exaustão antes de escrever. Senti-me mais responsável por tanta gente ler os meus textos. Andei angustiada durante uns tempos, até que me convenci, com a ajuda de quem partilha comigo o dia-a-dia, a relaxar mais, a aceitar um novo ritmo. Também quero que as pessoas percebam que, ao contrário da Vanessa, eu não me dediquei a este desafio com o apoio financeiro do jornal/editora e não fazendo mais nada. Continuo com os meus trabalhos, encaixando o blogue na minha vida “normal”. Da mesma maneira que não previ nada do que aconteceu até agora, não faço a mínima ideia – e ainda bem – do que virá. A minha resolução mantém-se (ainda que modificada): mudar 365 coisas na minha vida de modo a reduzir a minha pegada ecológica e continuar a partilhar as minhas “aventuras” com quem segue o desafio. Depois logo se verá!
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