Palestra: Mas como disciplinar sem bater?
¹Palestra: Mas como disciplinar sem bater?
²Eduardo Campos
Todos os pais têm o dever de cuidar e educar os seus filhos. Toda a criança tem o direito de receber cuidados e educação para que se desenvolva bem e se torne um adulto saudável. Mas o que mudou na maneira de educarmos nossos filhos?
Antigamente, a forma de educar era autoritária. Dizia-se que criança não sabia nada e que os adultos tinham que ensinar, corrigir, dar castigo e bater. Hoje, a forma de educar mudou; a criança é muito mais respeitada em sua individualidade e em suas necessidades.
Mas com essa mudança nas relações com a criança, muitos pais estão tendo sérias dificuldades para dar limites e saber quando dizer SIM ou quando dizer NÃO sem traumatizar e, ao mesmo tempo, com a preocupação de criar futuros cidadãos que consigam praticar o bem.
É muito importante para os pais acreditarem que dar limites aos filhos desde pequeno é ensiná-los a compreender que as outras pessoas também devem ser respeitadas. Para isso, é preciso que a criança entenda que pode fazer muitas coisas, mas nem tudo e nem sempre.
As finalidades da infância
Para os pais, a infância é um tempo para:- Introduzir controles;- Educar com delicadeza;- Estabelecer limites;- Evitar confrontações;- Demonstrar 100% de firmeza, quando necessário.Para as crianças, a infância serve para:- Aprender a controlar seus corpos e comportamentos;- Aprender a usar o banheiro;- Controlar os impulsos, aprendendo a esperar;- Aprender que ter um acesso de raiva não significa conseguir o que quer;- Controlar a frustração, aprendendo a ter um pouquinho de paciência;- Conseguir ficar algum tempo separadas dos pais;- Saber dividir e adquirir a noção de que os outros também têm direitos.
Dar limites é:
Ensinar para os filhos que os direitos são iguais para todos;
Ensinar que existem outras pessoas no mundo;
Dizer SIM sempre que possível e NÃO quando necessário;
Só dizer NÃO quando houver uma razão concreta;
Mostrar que muitas coisas podem ser feitas e outras não podem e explicar o porquê;
Ensinar a criança a agüentar pequenas frustrações do dia-a-dia para que, no futuro, possa superar seus problemas com mais equilíbrio e maturidade;
Desenvolver na criança a capacidade de adiar a satisfação – se não der para comprar hoje, amanhã quem sabe vai dar;
Saber diferenciar o que é uma necessidade da criança do que é apenas desejo;
Ensinar que cada direito corresponde a um dever e que cada dever pode corresponder a um lazer;
Dar o exemplo – quem quer ter filhos que respeitem as leis e os homens tem de viver seu dia-a-dia dentro desses mesmos princípios.
Dar limites não é:
Bater nos filhos para que eles se comportem – quando se fala em limites muitas pessoas pensam que isso significa dar umas palmadas, bater ou até espancar. Isso só ensina a criança a ter medo, mas ela nada aprende; pior ainda, no futuro, pode vir a fazer a mesma coisa com seus próprios filhos;
Fazer só o que nós, pai ou mãe, queremos ou estamos com vontade, sem ceder nunca;
Ser autoritário, dar ordens e impor a lei do mais forte através de ameaças e da força física;
Gritar com as crianças para ser atendido.
Por que não bater?
· Bater nada tem a ver com dar limites. Quem bate dá uma verdadeira aula de falta de limites próprios e até de covardia;
· Existem muitas formas mais eficientes e humanas do que a agressão física para manter a disciplina; elas trazem mensagens mais positivas para o futuro cidadão;
· Com o tempo, a famosa “palmadinha leve no bumbum”, que tanta gente acha inofensiva, pode deixar de causar efeito e acabar se transformando em palmadas cada vez mais fortes e, ao final, em verdadeiras surras;
· Mesmo obedecendo, a criança não aprende verdadeiramente, apenas deixa de fazer certas coisas por medo de apanhar;
· Depois, quando os pais se acalmam, sentem-se culpados e tendem a afrouxar de novo os limites, e aí começa tudo de novo.
Mas como disciplinar sem bater?
· Premiando ou recompensando o bom comportamento do filho e não só ralhando quando fazem algo errado. Quando a criança recebe estímulo, fica com a sensação de que vale a pena fazer as coisas da maneira certa; entendendo que premiar não é só dar “coisas materiais”. Para a criança, por mais consumista que seja a nossa sociedade, mais vale um carinho, um olhar afetuoso e um elogio sincero do que presentes, dinheiro, passeios;
· Fazendo com que a criança assuma as conseqüências dos seus atos: com a mesma naturalidade com que elogiamos e premiamos nossos filhos, devemos conversar com eles quando eles erram, explicando e fazendo com que reflitam sobre as atitudes incorretas;
· Tendo o cuidado de nunca rotular a criança, relacionando uma atitude errada dela a seu jeito de ser, para que ela não se sinta humilhada e derrotada. Dizer, por exemplo: “Meu filho, não é correto pegar o que não é seu sem antes pedir ao dono” e não “Você é desonesto, egoísta e quer tudo para você”.
· Sabemos que mesmo sendo os pais mais compreensivos e atentos do mundo, mesmo reforçando o bom comportamento, as crianças desobedecem, quebram as regras. Se você deixou bem clara as regras do jogo, e seu anjinho, mesmo consciente delas as quebrou, use a conseqüência-responsabilização, ou o famoso castigo. Cada criança é um caso, e as responsabilizações vão desde a retirada de privilégios, pequenas privações da companhia de amigos ou pais, cancelamento de um passeio ou sobremesas. A conseqüência não precisa ser extremada ou terrível. Mas deve ser sempre acompanhada de uma explicação simples e numa linguagem acessível à criança, que deixe bem claro a relação transgressão e responsabilização. Pais não esqueçam, prometeu, execute, sempre.
· Tenham paciência, perseverança, tudo na educação leva tempo para ser interiorizado.
1 Fonte: “Limites sem trauma”, de Tania Zagury, Ed. Record – 14ª Edição
² Pedagogo. Especialista em Educação, Orientador Educacional.
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